terça-feira, dezembro 15, 2009

A memória triste da linha do Sabor

Paulo Pimenta faz uma foto reportagem sobre a degradação da Linha do Sabor. Chamou-lhe memórias tristes. Em mim desperta um sentimento de forte nostalgia por um tempo que nunca vivi. As fotos a preto e branco dão força aos homens, paisagens, edifícios e ao céu!... oh... esse céu turbulento reflectido na água...

http://static.publico.clix.pt/docs/portugal/linhadosabor/

Fotoreportagem de Paulo Pimenta, publicada pelo Público.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Minaretes na Suiça

Este blog não é político, mas num país mergulhado na discussão sobre o que significa a recusa de construção de minaretes, não deixa de ser tocante a perspectiva de um jovem realizador genebrino: Robin Harsch.

Espero que gostem.

domingo, dezembro 13, 2009

Primeiro dia de neve em Genebra. O Inverno está a enfeitar-se de branco para o Natal! :)

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Memórias 1 - Moscãoteiros

As coisas que se encontram na internet! Acabei de rejuvenescer uns bons 20 anos. :)

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Foto do dia


Devoir, originally uploaded by Alexa's.

By me!

quarta-feira, dezembro 09, 2009

O Rappa - O que sobrou do céu

Uma música para pensar e um grupo para descobrir...



"Faltou luz mas era dia, o sol invadiu a sala
Fez da TV um espelho reflectindo o que a gente esquecia"

terça-feira, dezembro 08, 2009

Wanna call home?


Marrakesh

By me!

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Evolution Revolution Love




"Now that you got it right
Bring love and I will make it alright
Bring love and we'll make it tonigt"

Tricky - Evolution Love Revolution

quinta-feira, novembro 26, 2009

sexta-feira, novembro 20, 2009

Lua em Berna



By me!

quarta-feira, novembro 18, 2009

Tango - Gotan Project

segunda-feira, novembro 16, 2009

Le Petit Nicolas



From Sempé

C'est drôlement chouette! :)

domingo, novembro 15, 2009

A SCRUFFY nasceu!



A scruffy é o produto de um sonho e de muitos devaneios! Agora é uma realidade! Fotografias e histórias que escrever, reescrever ou simplesmente apreciar.

Criámos um mundo de mistério, paixões ardentes, um detective sem nome, um telefone que toca a meio da noite, uma lingua centenária, um crime por resolver... O princípio de uma grande história para ser escrita pelo que decidem acompanhar-nos no caminho.

O site está aberto para vos receber: www.scruffy.me. :)

sexta-feira, novembro 13, 2009

quarta-feira, novembro 11, 2009

Lenda de S. Martinho

A lenda de São Martinho conta a história de um soldado Romano chamado Martinho. 

De acordo com a lenda o soldado Martinho estava a passar por um caminho numa serra dos Alpes. Lá no alto fazia muito, muito frio e vento. Aparece-lhe um mendigo quase nu que lhe pediu esmola. Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar e lembrou-se de uma coisa que poderia fazer para ajudar. Com a sua espada deu um golpe na sua capa e deu metade da capa ao pobre para que ele ficasse mais quente. Mais à frente surge outro mendigo, a quem deu a outra metade da capa, continuando o seu caminho sob a forte chuva e vento. 

De repente, o mau tempo desapareceu. Parecia que era Verão! Foi uma recompensa de Deus a Martinho, por ele ter sido tão bom dando a única coisa que ele tinha para se aquecer. Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens o acto de bondade praticado pelo Santo, que todos os anos nessa mesma altura do ano, cessa por três dias o tempo frio. O céu e a terra sorriem com a benção dum sol quente.

Fonte: Wikipedia

terça-feira, novembro 10, 2009

Outono em Berna


quinta-feira, novembro 05, 2009

As montanhas acordaram polvilhadas de neve!... :)


quarta-feira, novembro 04, 2009

Parágrafos finais (II)

Continuando com parágrafos finais que cortam a respiração, aqui fica o de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez.

"(...) Aureliano saltou onze páginas para não perder tempo com factos demasiado conhecidos, e começou a decifrar o instante que estava a viver, decifrando-o à medida que o vivia, profetizando-se a si próprio no acto de decifrar a última página dos pergaminhos, como se estivesse a ver-se num espelho falado. Então deu outro salto para se antecipar às predições e ver a data e circunstâncias da sua morte. No entanto, andes de chegar ao verso final, já tinha percebido que não sairia nunca desse quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no momento em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergaminhos, e que tudo o que neles estava escrito era irrepetível desde sempre e para sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a Terra."

terça-feira, novembro 03, 2009

Águas de Março

segunda-feira, novembro 02, 2009

No fim do mundo

Curta metragem de animação que é uma verdadeira delicatesse!

sexta-feira, outubro 30, 2009

O crepúsculo por Baudelaire

"Voici le soir charmant, ami du criminel;
II vient comme un complice, à pas de loup; le ciel
Se ferme lentement comme une grande alcôve,
Et l'homme impatient se change en bête fauve.

O soir, aimable soir, désiré par celui
Dont les bras, sans mentir, peuvent dire: Aujourd'hui
Nous avons travaillé! - C'est le soir qui soulage
Les esprits que dévore une douleur sauvage,
Le savant obstiné dont le front s'alourdit,
Et l'ouvrier courbé qui regagne son lit.
Cependant des démons malsains dans l'atmosphère
S'éveillent lourdement, comme des gens d'affaire,
Et cognent en volant les volets et l'auvent.
A travers les lueurs que tourmente le vent
La Prostitution s'allume dans les rues;
Comme une fourmilière elle ouvre ses issues;
Partout elle se fraye un occulte chemin,
Ainsi que l'ennemi qui tente un coup de main;
Elle remue au sein de la cité de fange
Comme un ver qui dérobe à l'Homme ce qu'il mange.
On entend çà et là les cuisines siffler,
Les théâtres glapir, les orchestres ronfler;
Les tables d'hôte, dont le jeu fait les délices,
S'emplissent de catins et d'escrocs, leurs complices,
Et les voleurs, qui n'ont ni trêve ni merci,
Vont bientôt commencer leur travail, eux aussi,
Et forcer doucement les portes et les caisses
Pour vivre quelques jours et vêtir leurs maîtresses.

Recueille-toi, mon âme, en ce grave moment,
Et ferme ton oreille à ce rugissement.
C'est l'heure où les douleurs des malades s'aigrissent!
La sombre Nuit les prend à la gorge; ils finissent
Leur destinée et vont vers le gouffre commun;
L'hôpital se remplit de leurs soupirs. - Plus d'un
Ne viendra plus chercher la soupe parfumée,
Au coin du feu, le soir, auprès d'une âme aimée.

Encore la plupart n'ont-ils jamais connu
La douceur du foyer et n'ont jamais vécu!"

quinta-feira, outubro 29, 2009

Manifesto Anti-Dantas

Sempre delicioso!... e absolutamente actual! :)

"Basta pum basta!!!

Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!

Morra o Dantas, morra! Pim!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!

Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!

O Dantas é um cigano!

O Dantas é meio cigano!

O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!

O Dantas é um habilidoso!

O Dantas veste-se mal!

O Dantas usa ceroulas de malha!

O Dantas especula e inocula os concubinos!

O Dantas é Dantas!

O Dantas é Júlio!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!

E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!

O Dantas é um ciganão!

Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!

O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!

O Dantas é um soneto dele-próprio!

O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.

O Dantas nu é horroroso!

O Dantas cheira mal da boca!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas é o escárnio da consciência!

Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!

O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Dantas é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E quem tenha dó do Dantas!

E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!

Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:

A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!

A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.

A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.

A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.

Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.

E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda... Quem está aí?... E de candeias apagadas?

- Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.

Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.

Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.

A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.

Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade plos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e pasta Dantas prós dentes, e graxa Dantas prás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas- Magnésia.

E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!

Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.

E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!

E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!...

E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!

Morra o Dantas, morra! Pim!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mas atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas, morra! Pim!"


José de Almada Negreiros
Poeta d'Orpheu
Futurista E Tudo

1915

PS: Declamação por Mário Viegas

terça-feira, outubro 27, 2009

Le midi #13


Le midi #13, originally uploaded by Arkadius Zagrabski.
By Arkadius Zagrabski

segunda-feira, outubro 26, 2009

"Pensar, ainda assim, é agir. Só no devaneio absoluto, onde nada de activo intervém, onde por fim até a nossa consciência de nós mesmo se atola num lodo - só aí, nesse morno e húmido não-ser, a abdicação de acção competente se atinge.

Não querer compreender, não analisar... Ver-se como à natureza; olhar para as suas impressões como para um campo - a sabedoria é isto."

Bernardo Soares - Livro do Desassossego

domingo, outubro 25, 2009

sexta-feira, outubro 23, 2009

quinta-feira, outubro 22, 2009

PUBLICO.PT

PUBLICO





O arquitecto português David Mares, de 26 anos, venceu ontem o Prémio do Público num concurso internacional de design de abrigos, promovido pelo Museu Guggenheim de Nova Iorque, com um modelo que conjuga aço, madeira e cortiça.


In Publico.pt

quarta-feira, outubro 21, 2009

Leisure

What is this life if, full of care,
We have no time to stand and stare.


No time to stand beneath the boughs
And stare as long as sheep or cows.

No time to see, when woods we pass,
Where squirrels hide their nuts in grass.

No time to see, in broad daylight,
Streams full of stars, like skies at night.

No time to turn at Beauty's glance,
And watch her feet, how they can dance.

No time to wait till her mouth can
Enrich that smile her eyes began.

A poor life this if, full of care,
We have no time to stand and stare.

By 
Henry Davies

terça-feira, outubro 20, 2009

"I went to the woods because I wanted to live deliberately. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life. To put to rout all that was not life; and not, when I had come to die, discover that I had not lived."

Henry David Thoreau

segunda-feira, outubro 19, 2009

Impus a mim mesmo uma condição: não passar duas vezes pela mesma estrada.


João Alves Dias

"Até àquele instante eu viajava sem saber porquê. E então, sentado sobre o abismo, ocorreu-me pela primeira vez essa questão. "O que faço aqui?" Pensei em voltar para trás. Porém tinha caminhado de mais. e já tanto fazia recuar como avançar. Continuei em frente. Hoje viajo para saber porquê."

José Eduardo Agualuda
Passageiros em Trânsito, do conto O Ciclista

sexta-feira, outubro 16, 2009

Urban silence...


vancouver 528, originally uploaded by Rick E Dick.

By Rick E Dick

quarta-feira, outubro 14, 2009

Freeze!!!

terça-feira, outubro 13, 2009

Primeira chuva do ano

13/Outubro/2001

Era uma sonho aquela árvore que, por entre as brumas, fazia baloiçar os seus ramos. Não podia ser real... Flocos de núvens passavam lentamente mesmo ao nível dos meus olhos. Rendilhados. Quase transparentes. Cheiravam a húmido.

Do outro lado da janela fechada formavam-se gotas que não eram de chuva. Pareciam volatilidades das memórias que vêm e vão sem que nunca cheguemos a ter a certeza se existiram de facto e caso o tenham feito, quais os seus contornos, formas, dimensões, dureza...

Os ramos daquela árvore eram traços desmanchados. Formas equivocadas. Esculturas delirantes de um artista bêbado. Hastes retorcidas davam origem a troncos mais grossos. Voltas, curvas, ir, voltar, indecisão. Já quase não tinha folhas. O Outono anunciava-se. Apenas meia dúzia delas, baloiçando-se ao vento. Um último grito de coragem. Em breve cairiam como as outras. Teria que ser assim.

As núvens andavam agora mais depressa. Deixavam de ser passeantes de Domingo. Corriam apressadas na via rápida da cidade. Desfilavam perante os meus olhos, velozes, cada vez mais opacas. Ao longe conseguia distinguir o céu mais escuro. "Vai chover", disse uma voz atrás de mim.

A janela deu um baque surdo, abanando nos caixilhos. As formas retorcidas agonizavam em gemidos lamentosos. Cada vez mais as gotículas embaciavam-me a vista. Uivos e gemidos.

- Fecha a cortina e acende a luz. - ouviu-se ao fundo.

Parecia um sonho, o Inverno a materializar-se lá fora quando ainda ontem um dia de Verão acariciava a alma.

Grossos pingos dissiparam os rolos de nuvens apressadas. As chuva purifica a alma e as coisas. Praças, ruas, casas lavavam-se assim dos muitos meses de pó.

A escultura retorcia-se ainda. Velha. Talvez cansada. Quntos anos teria? Crescera imperceptivelmente desde que eu a observava ali daquela janela. Parecia um velho carcomido e sábio. Aquele sábio em particular tinha a face nudosa, coberta de musgos e rugas. Era feio, desolador e triste. E no entanto... ele sabia as histórias e o segredos que nunca seriam contados.

Também ele era purificado por aquela primeira chuva do ano.

Parecia um sonho a tempestade...

segunda-feira, outubro 12, 2009

"Acordei com a primeira luz. A manhã pousou-me no ombro, como um pássaro e ali ficou."

José Eduardo Agualusa do livro de contos "Passageiros em trânsito"

In free translation this means: 
" I woke up with the first light. The morning landed on my shoulder, as a bird and stayed there." 
Beautiful, isn't it?

domingo, outubro 11, 2009

Gutenberg Project

Fall is here... and with fall it is time for lazy sundays reading books in the sofa!!! This thought made me think of Gutenberg Project of which I got acquainted recently. It is about books, free books... and everyone can help!

This project started in 1971 with the purpose of encouraging the distribution of books. Today that is done through books available for download in all sorts of formats, for FREE.

I just loved the idea! Imagine, getting all the books available online for whenever we fancy read that last paragraph and we do not have the book around, or for when we would like to browse through an old classic which we cannot find anymore in the book stores, or just for all the people that do not have money to buy books but like reading.

In order to make this project to happen, they need volunteers. The work is quite simple: you get a scanned page, which was already been converted into a word processor. The conversion does not work perfectly so the work of the volunteers is simply to correct the mistakes of the process.

Simple isn't it? If you would like to know, to help or just to get some free reading on a lazy sunday, check: www.gutenberg.org.

Have a good sunday full of words! :)

sábado, outubro 10, 2009

Life's a journey!


sexta-feira, outubro 09, 2009

Irving Penn morreu...




quinta-feira, outubro 08, 2009

Mood Booster!

Os dias estão a tornar-se pequenos, cinzentos e molhados. Começa a ser tempo de mantinha e chocolate quente em frente da televisão!...

Entretanto... caso estejam a sentir-se um pouco melancólicos com a mudança da estação, a música que se segue vai-vos colocar um sorriso na cara!

GARANTIDO! :)



Jolie Coquine de Caravan Palace

quarta-feira, outubro 07, 2009

Da morte de um Deus ou do nascimento de um louco...

O Sangue das Palavras 
1

O poeta que nasce é uma criança
parida pela água torturada
uma nave que surge   uma nuvem que dança
ao mesmo tempo livre e condensada.

O poeta que nasce é a matança
da palavra demente e enjeitada
que o chicote do poema torna mansa
depois de possúída e mal amada.

Quando o poeta nasce a madrugada
aperta os versos num abraço rouco
até que a noite fique esvaziada.

E enquanto das palavras pouco a pouco
surge a forma perfeita ou agitada
no mundo morre um deus ou nasce um louco.

Ary dos Santos

domingo, outubro 04, 2009

Súbita voz lhe fala: 'Ao pé de ti,

"Súbita voz lhe fala: 'Ao pé de ti,
Eis-me outra vez ainda! O amor vendado
Dirigindo meus passos, descobri
Teu vulto; e vim no zéfiro da tarde.
Deixei por esses montes meu rebanho...
Por lá, deixei também o meu sossego.
Não me sai da lembrança o teu estranho
Aspecto encantador, que me seduz.
Não te posso esquecer! Tua figura,
Tuas palavras doidas me atraíram...
E vim na doce brisa que murmura...

- Este abraço e este beijo te perseguem..."

Teixeira de Pascoaes
Marânus - Marânus e a Paisagem

quarta-feira, setembro 30, 2009

Port of Amsterdam

Two versions... the same powerful song.



sexta-feira, setembro 25, 2009

Europa by Lars Von Trier

"You will now listen to my voice. My voice will help you and guide you still deeper into Europa. Every time you hear my voice, with every word and every number, you will enter into a still deeper layer, open, relaxed and receptive. I shall now count from one to ten. On the count of ten, you will be in Europa. I say: one. And as your focus and attention are entirely on my voice, you will slowly begin to relax. Two, your hands and your fingers are getting warmer and heavier. Three, the warmth is spreading through your arms, to your shoulders and your neck. Four, your feet and your legs get heavier. Five, the warmth is spreading to the whole of your body. On six, I want you to go deeper. I say: six. And the whole of your relaxed body is slowly beginning to sink. Seven, you go deeper and deeper and deeper. Eight, on every breath you take, you go deeper. Nine, you are floating. On the mental count of ten, you will be in Europa. Be there at ten. I say: ten."




(...)

In the morning, the sleeper has found rest on the bottom of the river. The force of the stream has opened the door and is leading you on. Above your body, people are still alive. Follow the river as days go by. Head for the ocean that mirrors the sky. You want to wake up to free yourself of the image of Europa. But it is not possible.

quinta-feira, setembro 24, 2009

O Poema

O poema me levará no tempo
Quando eu não for a habitação do tempo
E passarei sozinha entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen - Livro sexto

quarta-feira, setembro 16, 2009

Vida no Campo

Nunca tinha visto um pinto!... Quando se cresce no meio da cidade esquece-se de como as coisas começam: do pricípio antes das caixas de esferovite em que coberta com solofane jaz uma carne branca e sem história.


No campo, descobri como é o princípio. A mãe galinha  e os seus pintainhos amarelos e frágeis. Os galos que cantam. Os adolescentes que  penicam aqui e ali, fazendo as cristas vermelhas sobressairem sob os raios de sol.


É gira a vida assim ao Sol! As complexidades resumem-se a nascer, crescer, procriar e  sobreviver. Um abrigo, comidinha boa e as penas da mãe. Simples não é?

segunda-feira, setembro 14, 2009

Porto


Alexandra Leote (Sep'09)

Descobrir uma cidade através os olhos dos amigos que nela viveram e cresceram é uma forma incomparável de conhecer um local. Os meus amigos ensinaram-me que entrar no Porto tinha que ser ao som desta música! 

Porto Sentido - Rui Veloso 

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende ate ao mar

Quem te vê ao vir da ponte 
és cascata, são-joanina 
dirigida sobre um monte 
no meio da neblina.

Por ruelas e calçadas 
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.

E esse teu ar grave e sério
dum rosto e cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria

[refrão] 
Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa

terça-feira, setembro 08, 2009

Parágrafos finais (I)

Os melhores debates começam assim: noite dentro, quando os contornos das coisas se perdem. Este debate falava de últimos parágrafos, das frases colocadas imediatamente antes do movimento solitário de fechar um livro, do momento em que se escuta ao fundo a voz das personagens que se esbate e o silêncio que preenche o espaço. 

Eça era um mestre e o "Mandarim" é uma das jóias raras que ele nos deixou. É também um dos meus parágrafos finais preferidos. Acaba assim:

"Sinto-me morrer. Tenho o meu testamento feito. N'elle lego os meus milhões ao Demónio; pertencem-lhe; elle que os reclame e que os reparta...

E a vós, homens, lego-vos apenas, sem commentarios, estas palavras: «_Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim_!»

E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta idea: que do Norte ao Sul e do Oeste a Leste, desde a Grande Muralha da Tartaria até às ondas do Mar Amarello, em todo o vasto Império da China, nenhum Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses
supprimir e herdar-lhe os milhões, oh leitor, creatura improvisada por Deus, obra má de má argilla, meu semelhante e meu irmão!"

Eça de Queirós, "O Mandarim"

domingo, setembro 06, 2009

Há cidades cor de pérola onde as mulheres... Helberto Helder

Passou tanto tempo desde que aqui escrevi! No entanto, este poema é demasiado belo para eu o deixar passar em vão. Por Herberto Helder...


"Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.

Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.

MuIheres que eu amo com um desespero 

fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.

Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime - espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.

Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente."