quarta-feira, novembro 04, 2009

Parágrafos finais (II)

Continuando com parágrafos finais que cortam a respiração, aqui fica o de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez.

"(...) Aureliano saltou onze páginas para não perder tempo com factos demasiado conhecidos, e começou a decifrar o instante que estava a viver, decifrando-o à medida que o vivia, profetizando-se a si próprio no acto de decifrar a última página dos pergaminhos, como se estivesse a ver-se num espelho falado. Então deu outro salto para se antecipar às predições e ver a data e circunstâncias da sua morte. No entanto, andes de chegar ao verso final, já tinha percebido que não sairia nunca desse quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no momento em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergaminhos, e que tudo o que neles estava escrito era irrepetível desde sempre e para sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a Terra."

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