segunda-feira, setembro 19, 2005

Paradoxal



"-Oh, diabo!... E eu que disse ao Vilaça e aos rapazes para estarem no Braganza, pontualmente às seis! Não aparecer por aí uma tipóia!...
-Espera!- exclamou Ega.- Lá vem um "americano", ainda o apanhamos.
-Ainda o apanhamos!
Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos, que arrojara o charuto, is dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:
-Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao menos assentamos a teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
-Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...
A lanterna vermelha do "americano", ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega um esperança, outro esforço:
-Ainda o apanhamos!
-Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então para apanhar o "americano", os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa dos Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia."

Eça de Queirós, Os Maias

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