domingo, setembro 11, 2005

Istambul - A cidade das fronteiras



Istambul é uma cidade que se encontra no limiar de muitas fronteiras. É isso que lhe dá o gosto, o colorido e o fascínio que ao longo de séculos encantou os viajantes que nela se refugiaram.

Dizem que Istambul é a única cidade do mundo que cruza dois continentes... De um lado a Europa, do outro lado, muito perto, a Ásia. Há pessoas que vivem num continente, trabalham no outro. As influências estão por todo o lado... Istambul é uma cidade que se procura aproximar da Europa dando sinais de abertura e desenvolvimento e ao mesmo tempo está repleta do cheiro, umas vezes acre, outras doce, das suas especiarias. Os transportes públicos são modernos mas os velhos sentam-se ainda à porta das suas pequenas lojas enquanto jogam gamão e bebem chá ininterruptamente. Os homens nunca chegaram a perder a sua faceta de negociantes de outros tempo, numa cidade em que apesar da europeização nenhum preço está marcado. São dois continentes que se cruzam ali mesmo, de cada lado desse Bósforo que durante milénios viu invasões e imperadores a nascerem e a caírem.

Porque Istambul é uma cidade que está também na fronteira da história. De um ponto alto, quando o barulho dos carros se torna um som distante e a nossa vista abarca a silhueta daquela cidade coroada de orgulhosos minaretes que a nós, como a tantos outros, nos obrigam a erguer os olhos para o céu, não é difícil imaginar Ali Baba e os sultões das 1001 noites. Caminhando pelo palácio, os olhos deslumbram-se com a riqueza e elegância dos mármores coloridos, a dimensão do harém, a vista das suas varandas e jardins, a piscina de mármore branco, os tectos cobertos de delicados azulejos, as paredes rendilhadas, trabalhadas pelos mais habilidosos artistas daquele tempo. É fácil imaginar génios da lâmpada e tapetes voadores. É fácil imaginar sultões tiranos nas suas calças em balão, com as suas 300 concubinas escolhidas entre as mais belas mulheres do império e encerradas em salas de ouro e mármore. Mas isso são sonhos que atravessam a mente quando a deixamos vaguear pelas formas redondas e antigas da cidade. Do outro lado da rua passam carros perigosamente velozes, a poluição é um problema como no império bizantino terão sido as invasões bárbaras. A união Europeia é um sonho e uma necessidade, mas os abusos dos direitos humano são outra realidade. O capitalismo desenfreado e as multinacionais cobrem a paisagem e tornam um pouquinho menos mágica a “Blue Mosque” saturada pela pesada pronúncia americana que ressoa por todos os cantos, como em outros tempos o fizeram as preces. É como se a história desse uma oportunidade a cada povo de ser verdadeiramente grandioso. Istambul teve mais do que a sua quota parte de grandiosidade tendo sido a capital de impérios durante milénios. Hoje vive decadente entre os seus palácios, as suas mesquitas e as ordes de turistas, à procura da sua identidade.

Istambul é ainda uma cidade que balança entre muitas religiões diferentes. Muçulmana por certo, mas também judia, católica e muito mais. As cabeças cobertas das suas mulheres revelam o facto que a Turquia teve como religião oficial o islamismo até meados do século passado. Das mesquitas soam ainda, 5 vezes por dias, as leituras árabes do Corão que chamam os fiéis para a oração do dia. Leituras que soam aos viajantes como música exótica e embalante. À austeridade do islamismo contrapõem-se outros fiéis, sem fez ou véus. Alguém me disse: “Nós não somos como os Árabes, partilhamos a mesma religião mas ela é para ser vivida como cada um sentir que a deve viver”. E assim é em Istambul, muita gente e muitos deuses caminham por aquelas ruas.

E por fim... Istambul é uma cidade na fronteira do sonho e da realidade. A vista dos minaretes da cidade cobertos pelo nevoeiro da madrugada, fazem-nos questionar se será apenas um sonho ou se estarão mesmo ali.

1 comentário:

O Puto disse...

Espero lá ir um dia.