quarta-feira, setembro 30, 2009

Port of Amsterdam

Two versions... the same powerful song.



sexta-feira, setembro 25, 2009

Europa by Lars Von Trier

"You will now listen to my voice. My voice will help you and guide you still deeper into Europa. Every time you hear my voice, with every word and every number, you will enter into a still deeper layer, open, relaxed and receptive. I shall now count from one to ten. On the count of ten, you will be in Europa. I say: one. And as your focus and attention are entirely on my voice, you will slowly begin to relax. Two, your hands and your fingers are getting warmer and heavier. Three, the warmth is spreading through your arms, to your shoulders and your neck. Four, your feet and your legs get heavier. Five, the warmth is spreading to the whole of your body. On six, I want you to go deeper. I say: six. And the whole of your relaxed body is slowly beginning to sink. Seven, you go deeper and deeper and deeper. Eight, on every breath you take, you go deeper. Nine, you are floating. On the mental count of ten, you will be in Europa. Be there at ten. I say: ten."




(...)

In the morning, the sleeper has found rest on the bottom of the river. The force of the stream has opened the door and is leading you on. Above your body, people are still alive. Follow the river as days go by. Head for the ocean that mirrors the sky. You want to wake up to free yourself of the image of Europa. But it is not possible.

quinta-feira, setembro 24, 2009

O Poema

O poema me levará no tempo
Quando eu não for a habitação do tempo
E passarei sozinha entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen - Livro sexto

quarta-feira, setembro 16, 2009

Vida no Campo

Nunca tinha visto um pinto!... Quando se cresce no meio da cidade esquece-se de como as coisas começam: do pricípio antes das caixas de esferovite em que coberta com solofane jaz uma carne branca e sem história.


No campo, descobri como é o princípio. A mãe galinha  e os seus pintainhos amarelos e frágeis. Os galos que cantam. Os adolescentes que  penicam aqui e ali, fazendo as cristas vermelhas sobressairem sob os raios de sol.


É gira a vida assim ao Sol! As complexidades resumem-se a nascer, crescer, procriar e  sobreviver. Um abrigo, comidinha boa e as penas da mãe. Simples não é?

segunda-feira, setembro 14, 2009

Porto


Alexandra Leote (Sep'09)

Descobrir uma cidade através os olhos dos amigos que nela viveram e cresceram é uma forma incomparável de conhecer um local. Os meus amigos ensinaram-me que entrar no Porto tinha que ser ao som desta música! 

Porto Sentido - Rui Veloso 

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende ate ao mar

Quem te vê ao vir da ponte 
és cascata, são-joanina 
dirigida sobre um monte 
no meio da neblina.

Por ruelas e calçadas 
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.

E esse teu ar grave e sério
dum rosto e cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria

[refrão] 
Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa

terça-feira, setembro 08, 2009

Parágrafos finais (I)

Os melhores debates começam assim: noite dentro, quando os contornos das coisas se perdem. Este debate falava de últimos parágrafos, das frases colocadas imediatamente antes do movimento solitário de fechar um livro, do momento em que se escuta ao fundo a voz das personagens que se esbate e o silêncio que preenche o espaço. 

Eça era um mestre e o "Mandarim" é uma das jóias raras que ele nos deixou. É também um dos meus parágrafos finais preferidos. Acaba assim:

"Sinto-me morrer. Tenho o meu testamento feito. N'elle lego os meus milhões ao Demónio; pertencem-lhe; elle que os reclame e que os reparta...

E a vós, homens, lego-vos apenas, sem commentarios, estas palavras: «_Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim_!»

E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta idea: que do Norte ao Sul e do Oeste a Leste, desde a Grande Muralha da Tartaria até às ondas do Mar Amarello, em todo o vasto Império da China, nenhum Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses
supprimir e herdar-lhe os milhões, oh leitor, creatura improvisada por Deus, obra má de má argilla, meu semelhante e meu irmão!"

Eça de Queirós, "O Mandarim"

domingo, setembro 06, 2009

Há cidades cor de pérola onde as mulheres... Helberto Helder

Passou tanto tempo desde que aqui escrevi! No entanto, este poema é demasiado belo para eu o deixar passar em vão. Por Herberto Helder...


"Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.

Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.

MuIheres que eu amo com um desespero 

fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.

Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime - espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.

Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente."