domingo, março 19, 2006

Impressões da Lituânia

Vilnius - Lituânia
26/Fev/2006

À chegada, na minha mente, a Lituânia era apenas um país ligado à antiga URSS, mais próximo da Rússia do que do mundo ocidental, preenchido por uma língua indecifrável, longos casacos de pele e chapéus divertidos que evocavam memórias inconscientes dos velhos filmes russos.

VILNIUS
Na realidade, Vilnius lembra uma deliciosa cidade de bonecas russas. F. dizia-me que era antes um conto de Hans Christian Andersen. Vilnius é feita da matéria da irrealidade dos seus túneis, casas baixas e estradas irregulares cheias de neve, das matronas russas e bebes rosados. Parece um pouco um cenário de um filme, onde não é certo que para lá das fachadas exista alguma coisa.

Um olhar mais próximo e atento revela, contudo, uma outra realidade: essas pequenas casas com portões que podem não levar a lugar nenhum ou ao outro lado da cidade escondem sítios interessantes ao nível de qualquer capital europeia. São cafés "trendy" decorados com modernas peças de design e arte contemporânea; boutiques de marca; pequenas lojas de “délicatesses” recheadas de iguarias; lojas de âmbar, cujas pedras aprisionam pedaços de história; lojas de linho.

AS PESSOAS
Nas ruas nota-se o choque de duas gerações que me faz lembrar Portugal há alguns anos atrás. Por um lado, a geração mais velha, quase analfabeta, que se mantém apegada às suas velhas tradições; por outro, a nova geração, orgulhosa, com estudos, muitos com experiências internacionais, com apetite por marcas e moda. Nas ruas, junta-se ainda um outro elemento dissonante: essas mesmas jovens vestidas à última moda, vêem nos jovens ocidentais passaportes fáceis para o dinheiro e para a Europa. Esta é uma troca que tende a beneficiar apenas uma das partes. E suspeito que não são elas… Muitas vezes lindas de morrer, arrastam-se pelos bares com o ar fácil de prostitutas de rua. Não o são. Os ocidentais, atraídos por estes e outros encantos (o país não se coíbe de usar a beleza das suas mulheres como uma forma de atracção turística) não se fazem rogados aos avanços das loiras esbeltas. Mas eles partirão e elas ficarão, num ciclo que é na sua essência triste e decadente.

F. desenvolveu ao longo da sua estadia em terras de leste uma teoria sobre os homens e as mulheres que eu não resisto a partilhar. É de conhecimento comum que as mulheres de leste são bonitas. Ora... a razão porque isso acontece, segundo F., é porque Deus criou um incentivo aos homens desses países onde o clima é tão agreste e o trabalho tão duro, a eles se mantivessem vivos. E fê-lo através das mulheres bonitas. Pergunta minha... como se aplicará esta teoria ao Brasil? Comentário meu... efectivamente a criação foi benevolente apenas para um dos sexos, já que o mínimo que se pode dizer dos homens é que eles são feios!

O FRIO
F. tinha-me, caridosamente, avisado que iria estar muito frio. Claro que uma coisa sabê-lo e tê-lo em consideração enquanto se fazem as malas, outra é enfrentar o frio seco de 10ºC negativos. A pele queima, as bochechas ficam vermelhas, os olhos ardem. Mesmo em locomoção é necessário entrar de quando em vez em locais quentes, onde se sente o calor restabelecer o seu sítio correcto no interior de nós.

O LAGO
V. levou-nos numa excursão a Trakai, uma pequena vila não muito longe de Vilniu, no que é, aparentemente, programa usual de sábado à tarde para uma família lituânia. A excursão tinha um motivo adicional de interesse: o de irmos andar num lago gelado. Para qualquer povo do sul da Europa, esta ideia tem o seu quê de sobrenatural. Por definição, nos lagos não se anda, nada-se! No entanto, o facto é que andámos durante largos minutos naquela superfície lisa, branca e gelada. Cavámos na neve um buraco até encontrarmos o gelo da superfície da água para sermos capazes de acreditar que no Verão ali seria um aprazível lago, onde as famílias se banhariam, e onde os barcos agora presos nos ancoradouros gelados cortariam as águas.

À partida, Vilnius deixou-me uma vontade de ir conhecer mais, não apenas da Lituânia mas dos outros países dos Balcãs e do Báltico. Não estão assim tão longe de nós, mas ainda nos deixam o sabor agradável da surpresa de quando somos confrontados com outras culturas.

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